terça-feira, 16 de outubro de 2012



O PERIGO DA GERÊNCIA HUMANA FRENTE A SALVAÇÃO

Por Frei Roberildo, OFMCap 

Mesmo o assunto econômico na Bíblia sendo complexo, sua síntese será frutífera por fornecer material eficaz para honesto trato com os bens acumulados. Sabe-se que viva foi a tensão entre o ideal da fé e as situações cotidianas no mundo do povo da Sagrada Escritura. Na política centralizadora já na época da Monarquia em Israel, problemas como a desigualdade social e corrupção dos costumes, fizeram nascer o profetismo para relembrar que Deus é Senhor de todo o criado, restando ao ser humano gerir como serviço e não como usura. Mas se constatou que para superar a injustiça da chefia humana, só foi possível com a graça de Cristo no Novo Testamento na devida aceitação da Fé!
O tema da economia tem sido um dos aspectos mundanos que sempre se constituiu ídolo encantador. As tensões continuam na história! O mais chocante é que pessoas a quem Deus revela seus desígnios facilmente se desviam. Até alguém que recebeu o Espírito de Cristo, como Ananias e Safira, vacilou (cf. At 5,1-11). Resta perguntar-se sobre o que o ser humano entende por felicidade. Se ele não se contentou com o estar com Deus no Éden (cf. Gn 3), e se cometeu horrores na construção do paraíso terreno (mau uso dos bens), onde está sua meta? Qual a forma de atingi-la?
O ser racional percebe não estar sozinho no mundo. Encontra-se interpelado pelo Criador que pôs tudo sob seu comando, e ainda lhe tornou bênção para as gerações[1]. A Aliança lhe deu estrutura religiosa, social e jurídica[2]. Só que em vez de gerir para a salvação, o fez como dominação. No episódio da torre de Babel (cf. Gn 11,1-9) é mostrado como a arrogância das potências políticas contra Deus chegou às alturas. A cobiça se tornou força tal que eliminou o Servo (cf. Is 53), crucificou Jesus (cf. NT) e continua tentando destruir seus seguidores. É tipo de mal que pode operar em elementos humanos como a política, a religião, as relações pessoais, etc. Resta a Boa-Nova do Reino de Deus como contraposição à divinização de tais forças administrativas[3].
É Jesus quem faz brotar na história o Reinado divino que se completará na Parusia[4]. Com a fé cristã emerge aquela felicidade salvadora almejada pelo espírito humano. Até o ethos econômico será transfigurado pela solidariedade igualitária, como libertação dos corações. Agora a atitude ética e religiosa na lida com a propriedade será medida pela disponibilidade ao Reino de Deus. O mau uso dos bens acarreta pecado pessoal e social, contrapõe-se à salvação. Surgem novas relações, nova Esperança!



[1] Cf. BÍBLIA DE JERUSALÉM. Paulus, 2002, Gn 32, 23-33[nota c)]; 35, 9-13.
[2] Cf. MINETTE, Tillesse Pe. Caetano. Eclesiologia. 1/1, Fortaleza-CE: NJ, 1986, pp. 26ss.
[3] São compreensões retiradas de obras como: ANDRADE, Aíla Luzia Pinheiro de. “Eis que faço novas todas as coisas” – Teologia Apocalíptica. São Paulo-SP: Paulinas, 2012, pp. 101-106; e WRIGHT, Nicholas Thomas. O mal e a justiça de Deus, Viçosa: Ultimato, 2009, pp. 42.43.72.81.
[4] Cf. BRAKEMEIER, Gottfried. Reino de Deus e Esperança apocalíptica. São Paulo-SP: Sinodal, 1984, pp. 06-67; ANDRADE, Aíla Luzia Pinheiro de. Op. Cit. pp. 104-110.

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