O PERIGO DA GERÊNCIA HUMANA FRENTE A SALVAÇÃO
Por Frei Roberildo, OFMCap
Mesmo o assunto
econômico na Bíblia sendo complexo, sua síntese será frutífera por fornecer
material eficaz para honesto trato com os bens acumulados. Sabe-se que viva foi a tensão
entre o ideal da fé e as situações cotidianas no mundo do povo da Sagrada Escritura. Na política centralizadora já na época da Monarquia em Israel,
problemas como a desigualdade social e corrupção dos costumes, fizeram nascer o
profetismo para relembrar que Deus é Senhor de todo o criado, restando ao ser humano gerir
como serviço e não como usura. Mas se constatou que para superar a injustiça da chefia humana, só foi possível com a graça de Cristo no Novo Testamento na devida aceitação da Fé!
O tema da economia tem
sido um dos aspectos mundanos que sempre se constituiu ídolo encantador. As
tensões continuam na história! O mais chocante é que pessoas a quem Deus revela
seus desígnios facilmente se desviam. Até alguém que recebeu o Espírito de
Cristo, como Ananias e Safira, vacilou (cf. At 5,1-11). Resta perguntar-se
sobre o que o ser humano entende por felicidade. Se ele não se contentou com o
estar com Deus no Éden (cf. Gn 3), e se cometeu horrores na construção do
paraíso terreno (mau uso dos bens), onde está sua meta? Qual a forma de
atingi-la?
O ser racional percebe
não estar sozinho no mundo. Encontra-se interpelado pelo Criador que pôs tudo
sob seu comando, e ainda lhe tornou bênção para as gerações[1]. A
Aliança lhe deu estrutura religiosa,
social e jurídica[2].
Só que em vez de gerir para a salvação, o fez como dominação. No episódio da
torre de Babel (cf. Gn 11,1-9) é mostrado como a arrogância das potências
políticas contra Deus chegou às alturas. A cobiça se tornou força tal que eliminou
o Servo (cf. Is 53), crucificou Jesus
(cf. NT) e continua tentando destruir seus seguidores. É tipo de mal que pode operar em elementos humanos
como a política, a religião, as relações pessoais, etc. Resta a Boa-Nova do Reino
de Deus como contraposição à divinização de tais forças administrativas[3].
É Jesus quem faz brotar
na história o Reinado divino que se completará na Parusia[4].
Com a fé cristã emerge aquela felicidade salvadora almejada pelo espírito
humano. Até o ethos econômico será
transfigurado pela solidariedade igualitária, como libertação dos corações. Agora
a atitude ética e religiosa na lida com a propriedade
será medida pela disponibilidade ao Reino de Deus. O mau uso dos bens acarreta pecado pessoal e social,
contrapõe-se à salvação. Surgem novas
relações, nova Esperança!
[1] Cf. BÍBLIA DE JERUSALÉM. Paulus, 2002, Gn 32, 23-33[nota c)]; 35, 9-13.
[2] Cf. MINETTE, Tillesse Pe.
Caetano. Eclesiologia. 1/1, Fortaleza-CE: NJ, 1986, pp. 26ss.
[3] São compreensões retiradas de
obras como: ANDRADE, Aíla Luzia Pinheiro de. “Eis que faço novas todas as coisas” – Teologia Apocalíptica. São
Paulo-SP: Paulinas, 2012, pp. 101-106; e WRIGHT, Nicholas Thomas. O mal e a justiça de Deus, Viçosa:
Ultimato, 2009, pp. 42.43.72.81.
[4] Cf. BRAKEMEIER, Gottfried. Reino de Deus e Esperança apocalíptica.
São Paulo-SP: Sinodal, 1984, pp. 06-67; ANDRADE, Aíla Luzia Pinheiro de. Op.
Cit. pp. 104-110.
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